Alô, belezas
Nesta edição comento três práticas de desenho e compartilho umas notas sobre a poética da escuridão. Depois peço um momento de atenção e ajuda para os caminhos da cavalo d’água neste ano. Os mini-informes: em março teremos um novo zine e oficina de desenho (online) orientada com o ano novo astrológico. O Sonhário sem data segue disponível.
O sol entrou em peixes, os eclipses este ano serão no eixo peixes-virgem. Apertem os cintos. 𓆜𓆝𓆞𓆟 Deixo-vos aqui uma playlist aquosa:
desenhos do escuro
Começando pelo desenho cego, um método amplamente utilizado que ajuda em várias instâncias, mas sobretudo a enxergar como as coisas se comportam sem a tradução imediata de como se quer desenhar. Basicamente desenhamos sem olhar para o papel, com atenção da visão na figura - ou então, numa variação, tateando um objeto - deixando mais evidente as relações entre visão e mão e suas variações.
Outra experiência é desenhar sensação, movimento ou parte do corpo de olhos fechados. Para esse é interessante um papel maior, concentrar-se no corpo por dentro e riscar sobre a superfície esse movimento que surge. Ou então, de olhos fechados, desenhar uma parte do seu corpo por dentro. Concentrar-se, por exemplo, na escápula e desenhá-la.
E ainda, literalmente, desenhar no escuro. Um exemplo interessante são obras do artista Cy Twombly (1928-2011), que desenvolveu em seu percurso uma gramática gestual de linhas e manchas produzindo invariavelmente imagens abstratas carregadas de energia e algo a mais. A certa altura, incorporou em seu processo desenhar no escuro. Em geral suas obras evidenciam marcas caligráficas vindas de um lugar que mistura acaso com uma (re)estruturação e repetição intencional do próprio gesto.
Entre as implicações práticas desses exercícios podemos citar como elas ajudam a soltar o traço, desenvolver vocabulário gestual, trabalhar a atenção com vistas a produzir marcas, celebrar a expressão da marca em si e também aprimorar a observação.

Além do teor instrumental, esses procedimentos que invariavelmente nos levam à confusão entre gesto e visão, também carregam suas implicações poéticas. Ao pensar sobre elas, apareceram em mim algumas imagens, nomeadamente raízes e um quarto de breu, escuridão.
Para adicionar à esta sopa, compartilho aqui grifos meus das entradas escuridão e raízes no Livro dos Símbolos, para nos ajudar a aprofundar melhor tais imagens.
➽ “Ao longo das nossas vidas - nos ritmos circadianos do sono e do despertar, no processo criativo do jogo e da invenção, no pensamento que espera pela emergência das profundezas do inconsciente; durante os períodos de introversão em que o fascínio exercido pelo mundo exterior é embalado e o transpessoal é encontrado no horizonte da consciência - nós, como os gatos, repetidamente saímos da escuridão e a ele regressamos. A escuridão é a nossa primeira realidade, o vago enigma do nosso devir.”
➽ “A raiz principal é, em termos botânicos, a primeira parte da planta a surgir quando a semente germina. Ancorando a plântula, a raiz força o caminho para baixo, no solo, em busca de nutrientes na escuridão e de um apoio em terra viável. A partir da raiz principal, outras raizes crescem e abrem-se, estendendo-se para absorver água e minerais dissolvidos do reino inorgânico que alimentam e ventilem o caule vivo.”
a cavalo d'água em 2025 🐎💦
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