tempos, ritmos e updates
considerações sobre o workshop cadernos de desenho e pensamento
Alô, belezas
Hoje vou fazer ao contrário e começar pelos recados finais - mas fica aqui que esta edição está interessante ;) Se você gosta do meu trabalho e da Cavalo d'Água, partilho aqui algumas maneiras de me apoiar:
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E, para finalizar a sessão de informes, a trilha sonora: playlist do workshop Cadernos de Desenho e Pensamento.
Quando propus o workshop Cadernos de Desenho e Pensamento como formato online foi movida pela oportunidade de juntar público de diferentes localidades. No início eu fiquei um pouco desconfiada por ressaca do online pandêmico e se eu conseguiria, à distância, comunicar tudo o que eu gostaria além de proporcionar uma interação aterrada entre os participantes. Mas, ao mesmo tempo, me atraía a possibilidade do conforto (por que uma pessoa por videochamada pode estar de pijaminha, pode deitar, pode ter seus aconchegos privados) e de uma facilitação da co-presença com gasto de energia comedido. Como uma pessoa com poucas colheres de energia (ou, talvez, flutuantes), estar em contato ao vivo + deslocamento + desconforto me esgota mais rapidamente do que eu gostaria.
E agora, já tendo realizado duas edições deste workshop online, tenho novas considerações sobre questões da virtualidade, ateliê de criação e tempos. Acho que foi proveitoso o ambiente de estamos juntes, mesmo que separades. Cada pessoa fica autônoma para organizar seu espaço de trabalho e compreender que tipo de ambiente o fará estar confortável para os exercícios de criação. Um tema recorrente é não ter o tempo ideal para dedicar-se à prática de ateliê, ou compreender a constância de dedicar-se às suas práticas - aqui conectam-se questões de rituais, para além de hábito. Depois o que foi vivenciado no grupo pode ser modificado e aplicado à sua maneira por cada pessoa, conforme necessidades e rotina.
E por falar em tempo, o que ajudou a clarificar um pouco para mim mesma acerca deste tema foi durante a leitura do texto A Nau do Tempo-Rei, no livro homônimo de ensaios de Peter Pál Pelbart. Aqui é importante pontuar que este texto data de 1990, mas me fez conectar alguns pontos na cabeça.
A instantaneidade inaugurada com o audiovisual, levada ao seu extremo com a internet e nossa interação cotidiana com as redes sociais, traz-nos intensos momentos sem espessura, constituindo um modo de estar que anula ideias anteriores de espaço, tempo e duração. No ensaio o autor explicita o paradoxo desta temporalidade, na qual zero tempo e zero distância traduzem-se em velocidade máxima e imobilidade total.
Bem, o tempo da criação e do pensamento poético exige-nos algo de caótico, improgramável, errático. Exige-nos também paciência de realizar movimentos vários e de assistir brotar algo. Procurar localizar possíveis condições para esses brotamentos desemboca em buscar uma espécie de tempo para poder acolher o imprevisto. Estar aberta ao que vai surgir, a uma qualidade de tempo que não está somente na antecipação e na recepção das coisas.
Uma das travas recorrentes no desenho (obs: pequeno recorte do meu mundo de ervilha e relatos aos quais tenho acesso) é a gente partir logo para desenhar a ideia do desenho. O jogo de expectativas, condições musculares, olhar, técnica, entre outros aspectos, já se torna adiantado por como eu - pessoa que desenha - espero como tem de ser o tal desenho, como eu quero e espero que rapidamente eu possa atingir um status de desenho. Colocando os componentes de frustração de lado (que, no caso do desenho, acho que são constantes e não são completamente elimináveis) normalmente a gente não dá, não tem, ou não prioriza tempo de fermentação e tempo inútil.
Muitas vezes o desenho acontece (começa a brotar, ou, seu brotamento passa ao campo do visível) quando já estamos desenhando. Difícil localizar que a partir deste momento o desenho começou. Mas há algo do movimento da própria ação de desenhar que abre campo pro próprio desenho - ouroboros triplo de ação, pensamento, matéria. Comumente só sabemos o desenho quando já o estamos desenhando.
Então, a cada encontro e nos tempos entre-encontros (as sessões acontecem quinzenalmente), senti que este modelo online do workshop Cadernos de Desenho e Pensamento, mesmo que virtual, deu-nos condições para uma experiência de tempo não controlável e ao mesmo tempo coletiva, ainda que individualmente autônoma. Nesta temporalidade compartilhada, facilitada pelo virtual, sintonizamos em um tempo próprio do grupo pegando um pouco emprestado o “desafino” de ordem dos pagodes. Capaz de acolher e deixar movimentar diferenças de ritmos, momentos e desejos de maneira sincopada.
Sessões de Desenho ☼ Setembro
Dia 08/09 temos Sessão de Domingo - encontro online de desenho que acontece sempre ao segundo domingo do mês. Compartilho referências para desenharmos explorando tempos rápidos e exercícios de soltar o desenho. Inscreva-se no formulário.
O workshop Cadernos de Desenho e Pensamento volta no dia 21/09, com quatro sessões quinzenais, sempre aos sábados. Mais informações sobre os ciclos anteriores e o próximo no @pppaperplanes no instagram.
Obrigada pela presença virtual e por ler a Cavalo d’Água.
Um beijo e até a próxima! 𓃗
amei tudo isso! <3