Olá, belezas
A playlist da vez está aqui a vossa espera.
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Uma maneira de lembrarmos mais dos sonhos é escrevê-los ou contá-los a alguém. Transpor o que se sonhou em palavras, descrever o que aconteceu, talvez organizar numa tentativa de ordem cronológica. Uma narrativa que não compreende tanto assim ao sonho, onde as sensações de tempo são mais para espiral do que linear.
Às vezes os sonhos têm fases, que eu escrevo geralmente no diário assim: Parte 1 - Parte 2 - Parte 3. Mas elas são como fatias da memória que na verdade não sei qual veio antes e qual veio depois. Uma folha em branco pode ser um espaço livre para acomodar essa sobreposição dos tempos. Ano passado em um workshop com a artista Karlla Girotto (de desenho pro auto-desconhecimento), uma das atividades propostas foi anotar os sonhos em forma de desenho, sem procurar extrair uma forma-significado para a sensação e a imagem do sonho. Foi bastante desafiador e eu não consegui não apontar certas coisas. Como eu iria desenhar sem elaborar e definir contornos para aquele sonho? Ainda sigo nesta questão. Este é um exercício poderoso.
Se compreendemos o desenho como uma ação de tatear com o olhar, com o pensamento e com a intuição, este era um outro olhar com o olho de dentro, talvez com o olho do sonho. As práticas de desenhos de olhos fechados encorajam a não ficarmos refém da ideia de como deve ser uma visão. Ajuda a mão a ver e a visão e o tato a serem uma equipa. Na vida a gente vai deslocando os sentidos, esquecendo que eles são amigos.
Desenho Cego
Desenhar “sem ver” é um exercício que basicamente propõe desenhar o contorno do objeto/figura sem olhar para o papel. A pessoa percorre os limites do objeto com os olhos enquanto risca o o papel (algumas vezes sem olhar nem levantar o lápis). Esta proposta muitas vezes também brinca com o tempo que se leva no observar-desenhar quando, por exemplo, propõe que a pessoa faça todo o contorno o mais vagarosamente possível.
O desenho cego é um jogo simples que mexe com a relação entre visão e mão e permite multiplas variações. O objetivo não é fazer um traço perfeito. Ele é um dispositivo formidável para desaprender, ou desaprender a desenhar como se quer desenhar. Isto é, atravessando frustrações, maneiras de ver, imposições estéticas, reproduções, etc. De alguma maneira entramos em contacto aqui com o além da visão, a não visão, as diferenças e semelhanças entre ver e olhar.
Dreamland
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Como isto tudo é um experimento em andamento, fico feliz com sugestões, novas ideias e comentários :)
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