Alô, paixão
A trilha sonora dessa edição é o set do Vhoor no Primavera Sound ;)
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Pra sair um pouco de um deserto de desenhos voltei-me para alguns estudos despretensiosos. Precisava me curar de uma certa ressaca que envolveu questões acerca do trabalho de ilustração e uma falta de propósito meio generalizada. Então eu passei o últimos meses com uma rotina de estudos feios bastante gostosinha.
Como eu queria dar continuidade aos estudos de pose e figura humana, usei fotos de referência que foram produzidas para desenhos de observação. Há muitos recursos interessantes e gratuitos na internet. Na falta de oportunidade de desenhar ao vivo, recorro a esses: No Sketch Daily é possível selecionar fotos de corpo inteiro, partes do corpo, animais, vegetação ou estruturas. E ainda delimitar o tempo da pose, o que pode ser bastante útil. E tem um pessoal no Twitter e Pinterest como AdorkaStock e The Pose Archives que produzem galerias de poses de referência, várias delas com temas de ação e fantasia, além de variados pontos de vista, ótimas para estudo de movimento.
Para esses estudos foram dois os compromissos essenciais com o desenho que eu queria observar com maior atenção: ritual e prazer.
O ritual está circusncrito à repetição e à constância. Separei um momento matinal antes das tarefas para ser o momento do desenho (que era o momento desta proposta de desenho, visto que o meu trabalho também é desenho). Também vale comentar que eu gosto de rotina mas não funciono bem com horários e calendários, portanto há uma certa margem de como construir esse espaço de estudos constante. Isso pode ser transposto para pessoas com rotinas menos maleáveis e outras resposabilidades inegociáveis. Mas acaba por ser importante ser um momento que a mente esteja dedicada para isso.
O prazer nesse caso anda junto com a curiosidade: como vai ser desenhar isso se eu apenas desenhar? Fora de uma ideia de desenho e das minhas habilidades técnicas mais vulneráveis, mas assumindo a série de erros que iriam acontecer assim que começasse a riscar o papel. (Esquecer de usar a borracha ajuda bem o gesto fluir.) A escolha por cães entre as referências de estudo foi só porque eu gosto muito deles e é um outro tipo de corporeidade que eu não estou tão acostumada a desenhar. O prazer no ato do desenho é elemento essencial para os procesos criativos e da próprio refinamento e estudo da linguagem. O que faz a gente permanecer no desenho muitas vezes é o prazer em desenhar.
Play aqui pro slideshow dos alguns desenhos julho-agosto:
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A prática de esboços e os desenhos que não se preocupam em ser feios fazem parte do processo de se explorar a lógica da verdade de ver com o olho absoluto, único e descolado de todo um sistema particular que é o corpo. Vamos desenhar, por observação, aquilo que vemos diante de nós (a fotografia, o modelo, a paisagem, etc). Mas vamos desenhar também com a mão a que desenha, que é e produz o gesto, que liga-se a um corpo que respira, existe, move-se. E que justamente por respirar e estar vivo, já pertence a outros sistemas interconectados.
Práticas de Desenho <> Modelo Vivo
Práticas de Desenho até o momento está sendo o guarda-chuva das iniciativas e ações para explorar o desenho que tenho costurado. O projeto tem como propósito o fomento da práxis criativa, pesquisa e pensamento crítico relacionado ao desenho, além da ativação de espaços criativos e de troca não aos interessados pela linguagem. Anda a passos de caracol, mas pensado sempre com cuidado e atenção.
No primeiro semestre eu conduzi a estreia dos encontros de Modelo Vivo Colaborativo, uma sessão de desenho de observação da figura humana na qual os participantes serão convidados a posarem, como modelo.
Em setembro teremos mais :)
Agradecida por sua presença virtual :) Quero saber dos seus rituais e estudos de desenho, onde dá medo, onde dá tesão? Comente clicando no botão logo abaixo ou vem de e-mail!
Beijo e até!