Olá, belezas, tem alguém por aí?
Muitos meses desde a última edição da Cavalo d’Água. Mas, cá estamos nos ventinhos da primavera. Parabéns! Sobrevivemos a mais um inverno. Se você tá no lado Sul, parabéns por mais um verão gostoso. Estou sedenta por calor aqui.
Considero-me vitoriosa de coisas inúteis como avistar certos pássaros num bailado de movimentos no ar. Outro dia encontrei uma joaninha nas escadas do prédio e fiquei alucinada. Tem uma casquinha das árvores aqui, em formato de estrela, que me causam grande furor. Enfim, coisas sem serventia tem um espaço de largos hectares no meu coração.
A inutilidade cultiva um clube secreto com a perda de tempo. Confesso, meu hobby favorito é deitar do lado de fora e tentar pescar a vibração da coisas vivas (uma grande delícia). Mas a dor e a perdição de negar a produtividade e o resultado são difíceis pra mim também. Por isso toda a honra às coisas inúteis e à perda de tempo, por todo quentinho interior proporcionado.
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Pequenices Inúteis
Manoel de Barros, poeta brasileiro genial na sua simplicidade em inventar imagens com as palavras, traz em sua obra grande ode às coisas inúteis, às coisas que não tem propriamente valor. E ele também desenhava e fazia caderninhos. Ele nos ensina em seus poemas a respeitar e cultivar as miudezas, a brincar, a admirar as coisas sem valor e, especialmente, a prática da invenção. Conheci sua obra numa feira do livro na qual pedi ao atendente uma indicação de leitura. Eu tinha 15 anos e gostava de mergulhar em livros sobre os quais eu nada sabia. E foi com esse livro e em seus poemas que eu entendi por dentro a palavra ocaso.
Aqui dois poemas dele que nos dá substância afetiva para a filosofia do inútil:
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O Desenho Choné
É um exercício de desenho com o intuito de gostosura e des-serventia. Não é um esboço para uma ilustração, ou esquisso para pintura (mas se quiser pode). É inventar coisa sem pé nem cabeça para rir e ser prazeroso. Tecnicamente o desenho choné não é nenhuma novidade e já fazemos isso há milénios. Mas ele tem sentido especial pra mim pelo seu propósito deliberado de abraçar a inutilidade, a perda de tempo e a curiosidade (por exemplo, como que se desenha uma lua cheirosa?).
→ Para assistir: Só Dez por Cento é Mentira
→ O que li recentemente: Sociedade dos Sonhadores Involuntários, José Eduardo Agualusa & A Cachorra, Pilar Quintana
→ O que escutei enquanto escrevia: Os Originais do Samba
Os Desenhos da Sorte estão de volta :) Saiba mais sobre aqui e como encomendar o seu!
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