Alô, belezas
Hoje a Cavalo d’Água traz uma participação especial. 🙂 Nesta edição, Letícia Teche compartilha conosco sua experiência com seu caderno de processo.
Letícia participou dos três ciclos do workshop Cadernos de Desenho e Pensamento no ano passado e desde o último outubro aprofunda uma pesquisa em colagem com tecidos carregada de memória afetiva e familiar, além da exploração intuitiva do material, formas e cores.
➠ Trilha sonora em desenvolvimento, playlist paquera no café. ➠ Studio Sale - desenhos originais à venda aqui.
oficina individual de desenho e criação
Antes de mergulharmos no relato da Letícia, compartilho com vocês que a minha agenda está aberta para sessões individuais de desenho :)
✹ Pra quem sente vontade de desenhar, mas não sabe por onde começar
✹ E pra quem já cria, mas quer aprofundar processos, explorar novas linguagens ou desenvolver um projeto com mais intenção.
Os encontros são personalizados e online. Cada sessão é construída a partir do seu momento. Você pode esperar exercícios acessíveis, conversas sobre o seu processo, apoio técnico e criativo, além de espaço seguro e acolhedor para criar.
Se essa proposta te chama, clica aqui e me conta um pouquinho sobre você:
Na minha família, temos uma relação única com as roupas. Como muitas famílias que enfrentam dificuldades, aprendemos a fazer as roupas passarem de geração em geração. Usei (e ainda uso) peças que foram da minha mãe, tia, avó, primas... Há um vínculo de carinho e afeto com o ato de vestir e de passar adiante.
Construí uma conexão obsessiva com as roupas e tecidos. Preciso usá-las até que estejam num estado deplorável, inutilizável. Tenho um pequeno acervo de roupas que ainda não uso, mas que guardo por causa da textura, do toque, da possibilidade. Entre mim e as roupas há uma teia de ligações profundas que se manifestam na minha família e no meu mundo particular. Por isso, “destruir” o tecido e torná-lo uma colagem, mostrou-se quase como o próximo passo natural para mim.
Este caderno de colagens foi resultado de outros cadernos e dos workshops que participei, tudo isso me ajudou a chegar nesse momento em que olhei para um saco de retalhos de tecidos na casa da minha avó e lembrei de um caderninho em branco (que comprei em 2014), e assim surgiu a vontade de criar um mundo de possibilidades de colagens com esse material.
Parece um movimento muito simples, e foi. Mas até chegar nele teve uma grande caminhada para quebrar os medos e fazer esse processo, fluido, parte da minha vida.
materializar vontades e sentimentos
Faz uns três anos que, de uma maneira muito tímida, comecei a me comprometer em realmente voltar a desenhar. Quebrar os medos, frustrações e expectativas que nutria desde de criança. Comecei o caderno no final de outubro. O objetivo era terminá-lo até o final do ano, mas demorou um pouco mais, finalizei-o no início de janeiro. Foi uma prática quase diária, fazia pelo menos uma página.
Era algo intuitivo e sem esboço, ia vendo os tecidos, alguns retalhos menores que já existiam, os que eu não tinha usado ainda, possíveis combinações. Assim, começava a fazer a composição e já colava no papel, sem muita cerimônia. Muitas vezes, depois de criar algo, sentia: “agora posso ir pra esse caminho”, “testar cortar assim”, “algo mais fino/grosso”, “aqui seria legal criar uma flor”. Não quis trazer nada de esboço ou ideias muito trabalhadas, o objetivo era ficar fora desse campo elaborado das ideias, do racional.
caminho cromático
Antes dos encontros de desenho e dos cadernos, meus desenhos não tinham cores. Eu tinha muito medo de colorir, me faltava esse passo. As últimas vezes que usei lápis de cor nos meus desenhos (tirando na faculdade quando envolviam trabalhos) foram quando ainda estava na escola. Por estar na casa dos meus pais, acabei usando esses mesmos lápis de anos atrás. Surgiram alguns bloqueios sobre como combinar as cores e texturas, mas os fui quebrando conforme fui praticando.
O medo de usar cores deu lugar à experimentação e através das colagens permiti que a fluidez surgisse sem regras. Queria fazer combinações com os tecidos que tinha, testar as estampas e texturas, explorar todas as possibilidades. Foi algo meio randômico, totalmente intuitivo. Queria sentir as combinações, até fazer cores-texturas improváveis ficarem legais juntas. Claro que a intuição vem de dentro, das minhas referências, então tem muitas flores e a minha linguagem (ainda em formação). Estou no começo, sinto que há muita coisa pra explorar, como fazer dobras nos tecidos, costuras, já tenho outro saco de novos retalhos aqui, QUERO FAZER LOUCURAS.
Este caderno foi o resultado de muitas superações. Um dos meus maiores bloqueios com o desenho era a necessidade de fidelidade à realidade, “esse rosto não é assim”, “não está idêntico ao original”. A ideia do desenho realista me deixa um pouco presa e gera bloqueios quando percebo que não estava igual ao real. Além disso, também sempre tive uma certa dificuldade em compreender a arte abstrata. Minha formação é super tradicional em Design Gráfico, então tem todo o processo de pesquisa, teste, esboço, refinamento, para além da percepção do que é certo e errado, que já vem da minha criação também…
Por muito tempo fiquei presa nessa ideia: começar algo, ver que "não estava bonito" e paralisar. A intenção aqui era fugir disso. Queria criar, materializar vontades e sentimentos. E ver esse caminho acontecendo no caderno, tão fluido, me deixa muito feliz. Agora tudo faz sentido!
Foi a primeira vez que criei sem nenhum julgamento e não achei nada que criei feio, senti que era um processo. Isso me deixa muito feliz, sabe? Olhar para trás e ver que o que faltava era trazer eu mesma para as criações é um alívio. Ainda tenho dificuldade em notar minhas ideias, o que realmente quero. Porém ver que eu tenho esse poder de criar desmonta muitas inseguranças. O caderno virou tipo o meu terceiro olho. Inclusive, escrever sempre foi um bloqueio pra mim. Mas esse texto aqui simplesmente fluiu. E no final, para digitalizar as colagens, precisei destruir o sketchbook. Praticar esse desapego e saber que virão mais criações me deixa muito feliz.
Letícia Teche Fontoura é designer-artista. Vive em Castro, interior do Paraná. É formada em Design Gráfico pela UDESC. Ama descobrir novas músicas e está tentando não se levar tão a sério. Acompanhe a Letícia aqui.
O que é a Cavalo d’Água?
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Obrigada pela presença virtual e por ler a Cavalo d’Água.
Um beijo e até a próxima!
Nossa, me identifico muito com essa prisão ao desenho realista.
Adorei o relato e as imagens